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  • Foto do escritorMOPS Brasil Blog

Maternidade e a cura interior



Eu jamais saberei qual das minhas lágrimas transbordaram o cálice da misericórdia de Deus acerca do meu sonho de ser mãe. Quem me vê assim alegre mãe de filhos, nem sempre sabe, que nem sempre foi assim. Foram anos de espera, choro, orações, dores, lágrimas. Mas Deus foi extremamente bondoso e fiel. E eis que na primeira tentativa de FIV, pimba! Gêmeas lindas e saudáveis numa gravidez maravilhosa! Em gratidão a Deus, só não ando de joelhos nas ruas porque dói rsss, mas meu coração seguirá de joelhos para sempre.


A maternidade é a experiência mais linda que eu já tive. O milagre de gerar um filho, seja no útero ou no coração, é verdade de cada filho que nasce, pari-se uma nova mulher.

Talvez ter filhos seja a experiência mais próxima de vislumbrarmos o amor de Deus. O amor que idealiza, gera, gere, alimenta, cuida, cura, chama pelo nome...

Aliás, dar nome a um ser, é algo incrível! E um ser que sai de dentro de você, nossa! Por mais que tenhamos ajudadores, a exaustão de parir e nutrir consome e exaure as mais valentes das mulheres, mas eu passaria por tudo de novo, diante do fascínio do milagre da vida que se renova em nós, capaz de levantar exércitos dentro da gente, mesmo quando a gente pensa que vai sucumbir de cansaço.


A síndrome de mulher maravilha nos persegue, como se a gente tivesse que dar conta de tudo. Aos poucos eu aprendi a relaxar, a aceitar que não sou de ferro, e no auge da exaustão e do cansaço eventualmente até neguei colo para minhas filhas, mas depois me senti tão culpada, como se estar cansada não fosse permitido. E, quando achava que não devia sentir culpa, vinha a culpa de não sentir culpa. Como não rir de nós mesmas? Enfim, tudo é aprendizado para nós.


Outro marco pra mim foi o ritual de passagem de conhecimento das mulheres amigas ou mães mais velhas, avós, tias. Essa interação desde as sociedades mais primitivas se perpetua de diferentes formas, seja por trocas superficiais ou profundas de experiência. No meu caso, mudou muito meu olhar como mulher e sobre mulheres.


Talvez nos tornamos mais humanas com a gente mesma e com nossas semelhantes, afinal, agora vivemos no mesmo Olimpo. Passamos a relativizar a estética feminina e a nos defendermos umas as outras como um clã que sabe o que é ter o coração fora do peito. Peito? Ah os peitos… amamentei pouco, infelizmente, mas os peitos antes firmes e altivos, agora olham para as crias que insaciáveis por leite, sugam tudo de você e está tudo bem. As gordurinhas acumuladas ou estrias, são testemunhas do nosso tesouro mais nobre: filhos!


A gente aprende a relativizar o espelho, sofre um pouquinho aqui e ali pra voltar o corpo de antes, mas se não voltar, está tudo bem também...sem neuroses. A gente rejuvenesce na possibilidade de resgatar a nossa criança interior, que saúda, brinca e rola no chão com as crianças que saíram da gente. E, não tendo outra escolha que não seja ser forte, nos fortalecemos, amadurecemos.


Chegamos a um nível de maturidade e compreensão de parâmetros tão altos, onde finalmente compreendemos a dimensão do amor e do quão ingrato de certa forma isso parece ser. Pois as mães amam os filhos mais do que eles possam compreender e por mais que amemos nossas mães com todo nosso coração e nossa alma, a impressão é de que talvez nunca as compreendemos na proporção que elas nos amam até que nos tornamos também mães, e damos as nossas vidas pelos nossos filhos.


Minha rotina deliciosa com minhas filhinhas gêmeas resgata o que há de melhor em mim além de memórias afetivas lindas da minha infância, mas também me curou de tantas outras memórias em especial com minha mãe que sempre fora uma mãe incrível apesar das suas limitações e falta de tempo.

Mamãe e eu nos afastamos muito na minha pré-adolescência e juventude, eu não sei dizer exatamente o porquê, mas na rotina com minhas filhinhas, Deus me trouxe a memória diversos momentos felizes com a mamãe. Seu zelo por minha segurança ao estabelecer critérios de exposição e interação com o mundo. Apesar de achá-la radical muitas vezes, hoje compreendo que ela deu o melhor de si tentando acertar até mesmo quando errava comigo.


Aprendi a perdoá-la ao longo dos anos que antecederam minha maternidade porque no momento mais doloroso da minha vida em 2005, ela me acolheu sem nenhum pré julgamento. Do jeito dela, sem muita demonstração de afeto e sem me jogar confetes, mas me amou. Minha relação com minha mãe sempre foi meio solene, aparentemente distante, mas eu sei que minha mãe sempre esteve lá quando eu precisei.


Minha mãe sempre trabalhou muito e trabalhava por conta própria como contadora, rotina super densa, e meus pais tinham muitos filhos. Quando se é a filha mais velha em uma família grande, é natural não sobrar colo nem tempo pra você. Minha mãe estava sempre muito ocupada e correndo mas nunca me esqueci de quando ela parou tudo o que fazia por alguns minutos para montar uma cozinha de brinquedo que ela me deu. Nossos momentos de diálogos foram raros, mas tenho todos na memória.


Durante minha pré-adolescência, minha mãe sempre faltava nas apresentações do dia das mães da escola, por estar ocupada demais. Meu papai algumas vezes foi no lugar dela e guardo com muito carinho isso no coração (eles formavam uma ótima equipe). Deus me fez lembrar das poucas vezes em que ela foi, uma delas ela chegou mais tarde quando eu já estava no "camarim", me lembro de ter subido ao palco muito triste ao achar que ela não estaria presente, mas pra minha surpresa, ela estava lá, na primeira fila, me aplaudindo de pé! Ah como me senti feliz! Nunca me esqueci.


A maternidade segue me ensinando. Recentemente confundi as datas de uma apresentação das minhas filhas na escolinha. Como as crianças de hoje são muito comunicativas e espontâneas, minhas gêmeas me disseram que ficaram muito tristes quando não me viram lá. Quase morri de desgosto de mim mesma ao ouvir aquilo enquanto dirigia com elas de volta pra casa, mas falhar, nos humaniza. Logo me lembrei das inúmeras vezes que não perdoei minha mãe por algo parecido, mas detalhe, minha mãe faltava porque não podia, não porque esquecia. Sorte minha que havia uma segunda festinha no dia seguinte na escolinha das minhas filhas e pude me redimir. C’es la Vie! (Essa é a vida!).


Devido ao meu histórico de extrema carência maternal, hoje curada graças a Deus, eu quis ser uma mãe em tempo integral e amo cuidar das minhas filhas com esmero!

Decidi sem culpa engavetar a carreira e viver exclusivamente para cuidar delas, privilégio para poucas mães hoje, nessa vida corrida. Todavia tenho a humildade e a maturidade de compreender meus pais, especialmente minha mãe, ao me dar conta que há mais deles em mim do que eu supunha e que a roda da vida segue, dando voltas e ensinando-me o que certamente minhas filhas gastarão uma vida inteira pra aprender... quando enfim forem mães.


E enquanto esse dia não chega, eu sigo preparando-as para a vida e finalmente amando-as de forma que elas talvez jamais consigam mensurar antes de serem mães. E sabe o que eu aprendo todos os dias? Entre enúmeras coisas, a certeza de que ainda que eu tente ser a melhor mãe do mundo, certamente também vou errar algumas vezes, faz parte! Me resguardo o direito de ser imperfeita, a vida segue.


Enfim, não se cobre tanto! Ame, perdoe compreenda, discirna e permita que a sua experiência com suas crianças, cure a criança interior dentro de você!


Galiana Le Diagon



Galiana Le Diagon é mãe da A.Gaëlle & M.Chantal, designer gráfico e ilustradora nas horas vagas. Ser mãe em tempo integral é sua maior paixão. Hoje mora em Houston, USA, é uma das fundadoras do canal no YouTube Farol 90 graus (https://youtu.be/kZVG3drxTQk), https://www.galediagon.com


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